Seu Bomfim também é sobre o tempo e sua impiedade, é sobre caminhar entre ruínas, estar na terceira margem, onde não há ancoragem possível.
Se um dos entendimentos sobre arte contemporâneas a coloca no lugar da arte da experiência total – corpo, ética, estética, política, pensamento, como sendo a mesma coisa – QUASEILHAS é seu sinônimo.
Embora o pensamento objetivista não reconheça o sujeito da paixão como o sujeito do conhecimento, qualquer um que já se sentiu afetado sabe: é muito mais fácil escrever se alimentados por amor ou ódio.
Um corpo que se dissolve em múltiplas direções e, assim, nos dissolve junto, fazendo-nos turvos e desterrados: é assim que vivencio o que reconheço como a política fundamental do espetáculo - desterritorializar-se de um eu-tempo-espaço-definido para, então, habitar multiplicidades de ser.
Sobre o espetáculo infanto-juvenil “ECA! Quanta sujeira!”, de Guilherme Hunder
Édipo Rei – o rei dos Bobos é um trabalho que marca com incisão o panorama brasiliense de Artes Cênicas ao remontar a clássica tragédia grega, de Sófocles, de título homônimo com subtítulo irônico, neste caso.
Sobre Solos Baianos do BJS
Sobre o espetáculo “L-O-V-E”, de Paula Diogo (Má-Criação – Portugal)
A construção da baianidade não data de muito longe. Ainda que seja “terra mãe do Brasil”, como gosta de nos lembrar o slogan, por alguns séculos ser baiano não era considerado lá grande coisa.
Sobre o espetáculo Ponto e Vírgula: pequena pausa antes do fim
O projeto Diário Rosa inclui 5 eventos, criados com base na temática da violência contra o gênero feminino e promovendo diálogos com outras linguagens.
Sobre o espetáculo “O Contentor – o contêiner” No chão do Espaço Cultural da Barroquinha há um retângulo de luz desenhado por refletores. Esse espaço cênico exíguo é a base…
Crítica a partir de Entrelinhas, obra de Jack Elesbão. Segundo John Cage[1], Kant dizia que há duas coisas no mundo que não reclamavam por significados: a música e o riso…
Oito e Oitenta
Crítica a partir de SerEstando Mulheres, de Ana Cristina Colla
Certas coisinhas pequenas demais Sobre a Galeria ENTRE, de Alexandre Guimarães. É uma casa antiga, branca com detalhes azuis, numa rua de passagem do bairro mais boêmio da cidade. Para…
Estamos em plena Galeria Cañizares, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, participando, como artistas e espectadores, da VII Mostra de Performance que, neste ano, traz a temática “Performance Negra, imagem, empoderamento e dissonâncias contemporâneas”.
Loucas do Riacho, coordenada criativamente por Raiça Bonfim, não se caracteriza como uma obra de fácil acesso, e acredito ser difícil formar uma opinião estando lá apenas uma vez.
Um telão projetava os três intelectuais; no Passeio Público muita gente perambulava depois de não ter conseguido entrar para ver os palestrantes.
Imagino que ao leitor deva estranhar duplamente o título da crítica. Primeiro deve vir o susto de topar com uma expressão desse quilate escrita assim, logo no topo, mesmo em revista tão afeita a certas diversões.
Antonio Fábio, faz uns anos, uma vez me disse que estava interessado na questão do envelhecimento para trazer para o palco. Ele cumpriu a promessa.
Recentemente o Grupo Caixa do Elefante – Teatro de Bonecos, a partir de seu espetáculo Prólogo Primeiro, fez-me reencontrar com o fantasma de Gordon Craig.
Eu poderia começar esta crítica dizendo: A Danação de Tristão e Isolda é a cara do Núcleo Viansatã. Sei que à primeira vista pode parecer redundante, mas estou falando do processo de construção de uma identidade estética que o grupo vem desenvolvendo desde o ano de 2009.
Os versos das velhas cantigas entoadas pelo Bispo chegam primeiro aos ouvidos mais bem posicionados na arena do Vila.
Em 2009, quando eu era um calouro do curso de direção teatral na Escola de Teatro da UFBA, fui ver uma série de performances na Escola de Dança, da mesma universidade.
O interior de uma casa burguesa, mais ou menos cem anos atrás. Mobília belle époque, biombos, cortinas e xícaras de porcelana.
Talvez o maior desafio para uma pessoa brasileira minoritizada seja rasurar a retumbante e cafona pergunta ameaçadora “você sabe com quem está falando?” com a questão-enfrentamento “você sabe de que lugar estou falando?”.
O corpo não é um território neutro. Foram necessários séculos de cultura para que finalmente pudéssemos pensá-lo como suporte, quando na verdade é processo inacabado e tráfego incessante de informações. Forma mutante e indisciplinada, matéria revoltada; não baixa a crina, mesmo sob o peso milenar da chibata e da educação.
Ferramentas poderosas trazem em si cargas de risco proporcionais à sua força. Uma faca dá o poder para atacar ou proteger a família de terceiros, mas, se mal utilizada, a faca vira arma para o inimigo
Esse começo vai parecer manchete sensacionalista ou narração de filme noir. Fazer o quê? É noite. Numa casa ao fundo do beco, dois homens trocam porradas.
Vivemos tempos difíceis: Caos político, ameaças de golpes, violência urbana crescente, repressões institucionais várias, assédio urbano, dificuldade em ocupar os espaços públicos disponíveis (que são poucos), protestos, repressão policial....
Tenho esse hábito antiquado de realizar minhas refeições em família. São eventos em regra cotidianos, é claro. No entanto, às vezes não poderiam ser mais extraordinários.
Não tem muito tempo que em uma mesa de bar disse com tom embriagado, e talvez empolado demais, que ninguém no campo artístico, especificamente nas artes cênicas, poderia usar acontecimento sem ao menos ter uma básica noção fenomenológica quanto ao termo – logo eu, um “diletante-simpatizante” da fenomenologia.
Vivemos um período bastante complexo, e freqüentemente essa complexidade transparece de forma paradoxal.
Dizer o quanto é necessário a concepção de obras cênicas que tenham como foco o protagonismo negro, não chega a ser uma novidade para a classe artística.